O investidor que tem cotas de fundo de investimento de renda fixa ou que tem títulos públicos ou títulos privados de renda fixa na carteira já deve ter tomado um susto em algum momento ao abrir o extrato da sua corretora e perceber que o valor atual das cotas e dos títulos está menor que o valor inicial. Ou ainda, quando o investidor tem o hábito de verificar as suas aplicações todos os dias e percebe que há variações para cima ou para baixo a cada vez que é consultado o saldo. Essa dinâmica acontece porque existe um mecanismo de ajuste de preços que se chama marcação a mercado, ou do inglês, mark to market (MtM).
Se você investe em renda fixa através de fundos ou de títulos e já passou por uma dessas situações, mas não sabia o porquê, é de fundamental importância entender como a marcação a mercado é formada e como ela afeta os seus investimentos na prática para que você possa tomar decisões de investimentos mais seguras e mais conscientes.
Para que serve a marcação a mercado
Antes de tudo, deve-se saber para que serve a marcação a mercado. Esse mecanismo de precificação serve essencialmente para evitar que haja transferência de riqueza entre os cotistas de um determinado fundo, ou seja, para que os eventuais ganhos ou perdas de uma cota sejam de fato atribuídos ao investidor que está com as cotas no momento.
Já no caso dos títulos de renda fixa, a marcação a mercado serve para refletir o preço atual do título caso o investidor decida vendê-lo no momento atual, fazendo com que o investidor pague o preço que ele realmente vale. Isso porque, no caso dos títulos de renda fixa, apesar de a rentabilidade ser garantida ao final do período contratado na hora da aplicação, o investidor só garante essa rentabilidade caso leve o investimento até o final do período.
Vendendo antes, estará sujeito às oscilações de rentabilidade que acontecem diariamente devido às negociações feitas pelas diferentes instituições que apostam ou na alta ou na baixa do benchmark daquele ativo.
Como funciona na prática a marcação a mercado
Agora que está claro a finalidade da marcação a mercado, vamos entender como ela funciona na prática. Aplicado às cotas de fundo de investimento em renda fixa, as cotas são marcadas a mercado pelo preço atual de cada ativo que compõem o portfólio do fundo, ponderando os seus pesos dentro desse portfólio. Como os preços desses ativos também sofrem variação diária, é natural que o preço atual da cota seja medido dessa forma. Outro ponto importante é que há também variações diárias na quantidade de cotas, visto que sempre existem pessoas comprando e vendendo cotas de fundos de investimentos no mercado secundário. Essas variações também afetam o preço atualizado da cota de um determinado fundo porque a cota é calculada dividindo o patrimônio líquido do fundo pelo número total de cotas desse fundo.
Já no caso aplicado aos títulos de renda fixa, o investidor poderá vender o título a um preço maior ou menor quando vendido antes do vencimento porque há uma relação inversa entre taxa de juros e preço do título. Ou seja, se um investidor comprou um título público do Tesouro Direto que paga 10% ao ano com vencimento em 5 anos e depois de 1 ano a taxa básica de juros sobe para 12% ao ano, por exemplo, serão emitidos novos títulos do Tesouro com essa nova taxa de juros, fazendo assim com que o título que paga 10% ao ano seja menos atrativo. Desse modo, a marcação a mercado precifica para baixo o valor desse título. O oposto dessa dinâmica também é válido. Ainda nesse exemplo, se após um ano a taxa de juros baixar para, digamos, 8% ao ano, o título de 10% ao ano ficará mais atrativo porque pagará mais se for levado até o vencimento, fazendo com que a marcação a mercado o precifique para cima.
Quais fatores impactam no preço dos ativos
Por fim, há alguns fatores internos e externos às cotas e aos títulos de renda fixa que influenciam a marcação a mercado. Os principais são as expectativas do mercado em relação à taxa básica de juros e a liquidez. No primeiro, a dinâmica da relação inversa entre taxa de juros e preço dos títulos explicada no parágrafo anterior deixa claro a sua capacidade de influência no mecanismo de precificação. E no caso da liquidez do ativo, quanto mais líquido for o ativo mais rápido será sua marcação a mercado e, consequentemente, menor a possibilidade de perda. Por outro lado, quanto mais ilíquido for o ativo, mais demorado será a sua marcação e maiores serão as chances de uma discrepância maior entre o valor atual e o valor a ser recebido.
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Artigo desenvolvido pelo especialista em produtos de investimentos Wagner Luis Bertoldo, CEA.